quinta-feira, 27 de maio de 2010

A ribeirinha

É distinta, sensível e fagueira;
Sua fidelidade é incessante
E dela a solidão passa distante;
Palpitosa é a musa de ribeira.

Eis que infinita é a sua beleza;
a su'alma é cristalina, de criança;
No seu coração mora a temperança
E no seu corpo, a essência da pureza.

É uma deusa fremente, amorosa,
Maravilhosa, uma mulher candente;
É espontânea e sempre virtuosa.

Esmera e sua voz tem um dulçor...
No seu olhar luzi um viço ascendente;
É cordial, gentil, de mui vigor!...

Soneto

Apareceu como antes,
tão esbelta e radiante,
era como o rio lançado ao mar,
o seu encanto.

Deixei-me seduzir
no esplendor tão forte daquele olhar,
na beleza sublime daquele sorriso,
na doçura lisonjeira daquela voz.

Cheguei ao mais absoluto inconsciente,
um impulso repentino embeveceu-me inteiramente,
fazendo-me entregar àquele êxtase indecifrável de contentamento.

Mas ao refletir minha imagem no espelho,
o que contemplei foi a saudade, mais uma vez me consumindo,
era um devaneio do meu espectro pensamento, no firmamento.

A vida

A vida as vezes é pérfida, engana;
é fonte de água fria que congela a face rguida;
é uma forte depressão que inibe o otimismo;
é mergulhar profundamente numa sorte poluída.

A vida as vezes é só felicidade, alegria;
é uma doce harmonia que ressuscita a alma jazida;
é um gozo prazenteiro no azul do firmamento;
é alcansar o impossível e amar perdidamente.

A vida as vezes é severa; é impolgante;
é pranto, em seguida encanto radiante;
é sentir-se aprisionado num carcere sangrento.

A vida é mesmo de difícil entendimento, inesplicável;
é glorificar com impeto e perder-se num austero lamento;
a vida é morrer a todo instante, mas viver eternamente.

Longitude

Caramançhão Capela


Enquanto a auréola apresentava-se sisuda,


a soledade do caramançhão parecia


conformada perante um olhar estendido


na amplitude da incerteza.




Ainda era possível sentir o cheiro de terra molhada;


a capela colorida espargia sua essência transparente;


o chapéu-virado era o cenário das lágrimas


constantes de um sorriso decadente.




Pela orla somavam-se as fugidias areias;


a noite silente com su'aura lisonjeira,


tocava o rio que ria em direção ao mar pesqueiro.




Tudo existia normalmente...


todas as cousas viviam, eram evidentes,


só o otimismo não se erguia na longitude do desejo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Esplendor


Do trapiche se ouvia triste melodia,

Uma saudade empanava uma lembrança fria,

Era pálida, o sol não reluzia:

A noite se fez no meio daquele dia.


O céu cinzento, a tarde não se erguia,

O mar adormecido, sua única esperança, assim, jazia,

Uma solidão profunda saltitava, ria

Daquela face desfigurada, sombria.


As árvores quietas, o vento mudo, tudo perecia;

O prazer já não mais se fazia;

Até o silêncio calou-se naquela tarde vazia.


Mas, distante, uma luz então refletia e tudo revivia...

Era doce, suave, misteriosa e bela; ressurgia

Espraiando-se nas trilhas do sonho que evadia.

Voluptuosa

Para onde foi a morena faceira,
Deixando mil corações a esperar?
Sacudindo sua negra cabeleira,
Decerto saiu para namorar!

Com todo seu charme e cheia de prosa,
sai a oferecer amor por inteira;
A rapariga doce e primorosa,
É uma cabocla namoradeira!

Encanta té o estelar e o lunar,
Seduz no aroma do seu corpo cálido,
Almeja todo corpo, todo olhar.

-vivo de amar - está sempre a dizer.
Tresvaria-se em infindos desejos,
E dá-se sem limites ao prazer.

Desejoso

A airosa aurora rompe as flóreas alvoradas,
Das benfazejas ribeirinhas palpitantes
E os pássaros peregrinos, radiantes,
Exibem seus primores para as nuvens argetadas.

Erguem-se as tardes prazenteiras, então os ventos adejantes,
Desfraldam pelos ares o canto mavioso,
Das frondes odoríferas com o sol majestoso
Refletindo envaidecido os seus raios cintilantes.

Eis as noites gracejosas, assim o eterno céu estrelado,
Com o riso esculpido da lua oscilante,
Passeia triunfante apreciando o mar ondulado.

Ah! Se asssim como os dias deleitantes,
Despontasse do infinito um horizonte de mil cores,
Entrelaçando-se um destino, renovando meus amores!

Enamorado


Te encontro quando no céu constelado,
Exibi-se a lua repleta e pura,
Suntuosa, sobre o mar ondulado,
Oscilante, luzindo de ternura.

Te encontro quando reflete no poente
O sol imponente tecendo o alvor,
Esbelto, sobre o lume do horizonte,
Ostentoso, ebrioso de fulgor.

Te encontro no canto terno das aves,
Na areia na praia, no odor das flores,
No arvoredo, na brandura dos ventos.

No frio, no calor, na rima dos versos,
Nos contos, nas prosas, o tempo inteiro,
Te encontro sempre perfeita, Mosqueiro!

O sarau


As ruas e os automóveis cochichavam sem parar;
a matriz não entendia o tom do sábado enluarado;
os bancos da praça espichavam-se por trás
de centenas de cadeiras estendidas na grama.

Todos queriam contemplar o acontecimento:
mangueiras, açaizeiros, conversavam extasiados,
já o coreto mantinha-se calado
perante a grandiosiade do evento.

Versos em branco, outros rimados,
poetas sonhando, outros airados;
aplaudia-se de pé as obras recitadas.

Muita emoção, amor, solidão,
magnetismo, prazer, inpiração...
o que queria dizer não precisava saber, apenas se sentia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Súplice

Esparze aquela doçura espontânea,
Ditosa e benigna pupila olente,
E dá-me o lis da vossa nívea,
Como o esplêndido luzir do ocidente!

Esvoaça aquele encanto selênico,
Sobre as águas argênteas, docemente,
E dá-me a luz do vosso olhar angélico,
Como o etéreo fulgor do sol ponente!

Deusa devota e extrema castidade,
Como a brisa que beija a noute amena,
Dá-me, dá-me a vossa infinda beldade!

Oh, céus! Oh, incessante desventura!
Como pode viver valer a pena,
Se tenho na fortuna tanta agrura?